O esporte pode fazer muita diferença na vida de pessoas que enfrentam alguma doença
Erika Braz
Blog da Saúde
A amiotrofia espinhal é uma doença que atinge pernas e braços. Como os neurônios motores inferiores da medula são afetados, a força muscular desses membros vai diminuindo cada vez mais. A arquiteta Karen de Sá, de 33 anos, sabe bem disso. Ela convive com a amiotrofia desde os cinco anos. Mas mesmo tendo que superar diariamente as limitações e os incômodos provocados pela doença, Karen nunca desistiu de seguir em frente. O incentivo foi encontrado no esporte.
Até os 23 anos, ela usava um andador para se locomover, hoje precisa de uma cadeira de rodas. Mas, nada que a impeça de praticar atividades como pilates, equoterapia e musculação. “Eu comecei a fazer pilates porque eu não queria mais fazer fisioterapia convencional. Comecei com o pilates para mudar um pouco. Com ele consigo manter a respiração porque eu preciso cuidar do pulmão. E com a equoterapia tive avanços. Em um grupo, vejo meninas que têm a mesma doença comentando que não comem mais, outras já não andam mais, já não fazem muita coisa que eu faço. Eu consigo, ainda com dificuldade, abaixar na cadeira para pegar alguma coisa no chão. Então acho que isso me ajudou muito, me manteve ativa. Se eu tivesse acomodado, estaria pior”, conta a arquiteta.
A doença da Karen é crônica e, portanto, não tem cura. Ela toma suplementos para o corpo e é acompanhada por médicos. “Mesmo sendo muito difícil, porque é uma luta constante, você precisa ter um suporte e muita saúde psicológica. E eu acho que nisso o esporte ajuda bastante. Você ver que é capaz. Dizer ‘nossa eu também dou conta de fazer isso’ é muito bom”, relata.
Karen evoluiu com a equoterapia. Foto: Reprodução |
Tirar o foco da doença
Na vida de pessoas que enfrentam alguma doença, o esporte pode fazer muita diferença. “A atividade física contribui para o controle da saúde, como por exemplo, a redução da pressão arterial, o controle da glicemia, benefícios às articulações e melhoria do sono. Em alguns casos, o esporte acaba sendo uma opção para que a pessoa consiga buscar motivação, principalmente naqueles que exigem interação com outras pessoas”, explica a analista técnica de políticas sociais do Ministério da Saúde, Gisele Rodrigues.
Sentir-se motivado é fator imprescindível para as pessoas não se entregarem à doença. “É muito importante que ela consiga buscar formas de tirar o foco da doença”, completa.
O pesquisador do Programa de Carcinogênese Molecular do Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA), Fernando Frajacomo, estuda os benefícios da atividade física para pacientes em tratamento contra o câncer. De acordo com ele, os estudos sobre o assunto até hoje divulgados mostram que a prática de qualquer exercício vem sendo integrada como parte fundamental do tratamento oncológico, desde a fase inicial de diagnóstico até a fase de pós-tratamento.
“O que a gente observa é que os benefícios da atividade física vão muito além do bem-estar. O tratamento oncológico vai passar por várias etapas. Frequentemente, o paciente que é diagnosticado com câncer recebe a oportunidade de fazer a cirurgia ou alguns vão direto para quimioterapia ou radioterapia. Esses tratamentos já repercutem numa melhor sobrevida. Mas, ao mesmo tempo, eles também cobram um preço alto desse indivíduo”.
Fernando lembra que uma doença como o câncer causa cansaço, náuseas, sensação de desconforto e a perda de capacidade. Além de afetar a autoestima e provocar alterações importantes no peso do paciente. Por conta disso, o esporte ajuda o paciente a enfrentar esses sintomas.
“Sempre é importante manter a atitude positiva diante do tratamento que vai ser longo, pode durar anos. Esse é um período em que o seu físico e o mental vão sofrer abalos. Em alguns momentos a fadiga, por exemplo, não vai permitir que se faça de tudo. Mas é sempre importante que se mantenha ativo, dentro das suas possibilidades, buscando aquilo que lhe interessa. Muitas vezes a gente até presencia casos de novos atletas pós-tratamento. Pessoas que dão continuidade aquilo que começaram por causa da doença”, comemora.
A melhoria no convívio social
Outra contribuição do esporte para pessoas em tratamento pode ser sentida no convívio social. O educador e professor de judô Oswaldo Navarro tem mais de 25 anos no esporte e inúmeras histórias de habilitação e reabilitação de alunos com problemas de saúde ou síndromes. Pessoas que conseguiram, por meio da luta, evoluir socialmente e melhorar a saúde.
Uma dessas histórias é de um aluno autista. “O grau de comprometimento dele era sério. E em um ano alcançamos o desenvolvendo dele dentro e fora do tatame. Antes ele não fazia nenhuma atividade que eu propusesse, só ficava gritando e queria sair correndo. Agora, corre sozinho, já não grita e já faz as atividades todas. Claro, ele nunca vai lutar com alunos não-autistas, mas já segura no kimono e se esforça para fazer o que pedimos”, descreve Oswaldo.
Oswaldo defende que o esporte ajuda no convívio social. Foto: Reprodução |
Oswaldo acredita que quem precisa conviver com alguma doença ou está passando por tratamento médico para curá-la deve buscar ao máximo garantir qualidade de vida. “O esporte vai mudar a sua vida, fazendo você se sentir melhor, ter uma socialização melhor, ter saúde no corpo e na mente”, finaliza.
Antes de iniciar algum esporte, consulte um médico!
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